quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Dobradura de tua voz e dos olhos...

Teus olhos se esbarram repetidas vezes a essa cor de outono amendoados, quando te sinto e ouço decorar-me todas essas melodias a emitir em tua boca. Despi nos teus contornos, raízes de um poema exposto, que me florescem, carregam meus descansos nas folhagens do chão. E quando pela tua Alma desejosa esculpe certos silêncios, tinge nas íris dos meus, clareados. E estreitas as desoras de mim. Suspensa quase evaporo, semi-solta àquela frase a deslizar na dobradura dos teus olhos, e na fina esperança que antecedes tu ao Mar. Sabendo eu que qualquer gesto abriga-me rente a ti, distende tantos vazios, amansa sentidos outros. Despertais assim dimensões ternas, acolho-me ante essa tua pausa espremida, a esmaecer as querências que carrego abafadas: e me revira, gira, voa todo meu ser.
Um caminho desancorado que desnuda - me suplanta. Como se tudo suavizasse resoluto esse encantamento. Brinda-me sem saberes do teu tom, povoa-me dos teus amanhãs, palco onde repouso da aridez do vento. E exponho-me versar toda cor que revela poesia apoiada em tua voz.  Que devoras e devolve-me o esmero sossego, que também rasura a rima.
Quero a versão contrária e durável dessas distâncias, e desprender-me para que seja o esteio para tuas presenças. Assim, movida por uma ternura tão habitada, tudo finda, desabrocha as linhas para fazer-te de jeito sublime disposto a esse propósito - se atentar a mim. Cultivo esse orvalho, na tua voz que se confessa a mim dos teus sagrados, que me abrigam, avivam-me no teu uni(verso). E que aos poucos pousa e voa e fica com aquela paz bonita, a desafogar; para te habitar e te caber todo.
(Fernanda Fraga, 7 de Dezembro de 2013)


"Te ver era como despir uma poesia. E se vestir da cor dos seus olhos." (Bárbara Carvalho)


*Imagem do Google site específico não encontrado.

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A Bem-aventurança...

Com um iluminado traço recortou infinitas manhãs
Venturosa atravessava teus rios,
Agrestes equidistantes,
duas margens aplainadas por entre os jardins
Florais vestidos para perfumar outras mãos – senão as tuas.
Pétalas, aves e arrebóis
Cingiam-se o Céu e a Terra
Como lençóis a beijar o dorso, vielas da face;
Feixes dos cílios, o corpo a deitar defronte a flor.
Antes quando sombria desafinava os Cânticos
Cansava-se os pés, doía-a-se.
Lembrou-se outrora que teus gestos cristianizavam
até as pedras secas
Ainda que aridez fosse feito os teus trajetos
Enfeitavas mesmo assim...
No horizonte de tuas dimensões, ainda que temporárias
Nasceria em outros campos e o Sol desenrugava
a penumbra de tuas tristezas,
A se dilatar nas bordas
Do quase-aqui, exposto, solto;
Pra te fazer caminho novo
Enquanto teu lume percorre o parapeito dos ventos
São teus versos a acolher
Desenhando no lábio
A bem-aventurança
Para abrigar-me rente, em tuas aquarelas.
A ser a presença
Senão tua saudade
Teu nome,
Pra decorar minha boca.

(Fernanda Fraga, 07 de novembro de 2013)

*Site da imagem não encontrada no Google.

sábado, 5 de outubro de 2013

Contemplação...

*Foto de arquivo pessoal
Desde então as garças se debatiam no beiral daquelas calçadas, nas ramagens do Sol. A brisa dissolvia a candura das Palavras e afinavam minhas asas e alçavam os meus pés. Sua leveza revelara o silêncio e o cheiro de aprofundar espelhamentos. Um crepúsculo a invadir o ritmar dos arvoredos e aquilo que está atrás dessas sutilezas. Meu lápis azul compõem algumas rimas, desenhos; letras, linhas e outras, sílabas ágrafas. Consagração de visitar-se os olhos. E meu ofício é trazer-te existência. Lugar onde mora a plenitude, o aroma das cores e a textura dos sons. Templo onde as franjas amarelas do meu quintal também te habitam. Altar onde a voz do poeta é violino, flauta doce, verso oblíquo, presente do infinito. A entradura nas copas das árvores para apalpar aos olhos. A expressão da alma em redescobrir nas letras seus amanheceres quando nos falta o seu alcance. O hálito verberado da própria fala audível, entre os horizontes. A poesia nasce do que está lá para ser vista daqui.

(Fernanda Fraga, Minas Gerais, 30 de setembro de 2013)
                                                                                                                       
*Foto do meu arquivo pessoal registrada a caminho do trabalho, numa manhã de setembro.

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Itinerários da Saudade...

Para ouvir – Enya – Anywhere is
Para a poeta Iris Marcolino

Saudemos a toda essa S a u d a d e, perfume que habita nossas presenças, promessas de palavra – certa, frescor com brilho de Estrela desdobrável, firmamento para além do papel. Pinturas e pincéis em que meus olhos e mãos se engravidam defronte teus ofícios.
Tão etérea, desabas em mim, itinerário que prefacia as línguas enamoradas. Aquelas com hinos que nos moldam a mágica sacralizada das curvas e linhas para nos aproximarem do teu ventre, do teu Céu. Um caminhar em que o Amor nos ensine e a certeza de que a Poesia borda na ponta dos dedos, seu próprio nome.

(Fernanda Fraga, Minas Gerais, 24 setembro 2013)

“As tuas saudades são em mim: Poemas sem FIM” (Iris Marcolino)


*De uma paráfrase trocada com Iris Marcolino colaboradora da página Ex-Extranhos.
*Imagem do Google sem site específico.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sacralizar...

No Amor afino o que se soube de suas asas
Do meu voo, verso outras nuvens, o teu reflexo.
E pouso,
Velejo sob mares
Me deito nas conchas mágicas,
Pincelo saudades nas desordens das estações
Anúncio que rememora nossos jardins
Desfolha à alma através das mãos do outro
Iluminâncias ondulares que falam aos olhos a invenção de ti em mim.
Canto nas marquises para acolher o palco do amanhã.
Contigo, sou comunhão.
(Fernanda Fraga, 27/08/2013)

*Imagem do Google site de hospedagem da imagem, não encontrado.

sábado, 31 de agosto de 2013

Aurora Boreal em Bossa Nova


Estou traçando no grafite um Bemol
à beira dessa Bossa Nova.
Teu sorriso de versões Sustenidas.
Nuvem prateada, aurora minha
Riso boreal.
Lá fora descortinas nas matizes
O crepitar macio da caligrafia
Estrelas em espirais
Esferas reluzindo
E escrevo-te, redigo-te:
Esse Porto tem seu nome!
Salpico uma brisa leve
a entrecortar os teus ombros,
Arpejo a tecla, a ponta do cirros
Faça-te então morada, caminho,
E todas as bonitas coisas
Fagulhadas nos teus passos e nas cores,
Uma linha quase transparente,
Que só o bem-querer nos destina,
E o afeto alcança.
(Fernanda Fraga, 27/08/2013)

“Algum dia, o poder será dado à ternura”. (Rubem Alves)

sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Chegadas...


Obra de Vincent Van Gogh Starry Night (1889)

Solto nascentes nos meus dedos. Rio que esfarela a chuviscar na pele, na íris do teu olhar. Devora as labaredas das palavras, veste sinfonias quando o Sol rastrear em ti os sonhos. Azul perfumando Estrelas, fruto descontido em nós: multiplicais-vos. Sereneia a imensidão das Árias, nas próprias mãos - veste-se inteira. Desvincilha a bússola. Religue solene o Infinito, o sopro: o aconchego. Enquanto o verso chega, enquanto te encontro.
(Fernanda Fraga, 07/07/2013)
              

sábado, 10 de agosto de 2013

Se sabe grande. Demorada...

Eis o meu gosto crucial pela subjetividade. Articulação milagrosa, nascida venturosa, aplacada de amanheceres. Eis que me encontro nesse ofício de detalhar os timbres, sinergismo de cores. Imanente encanto de perfumes, quando o Mar me ler. Pouso algumas distâncias pra entrecortar nossos suspiros. Antagonistas de frases soltas pra se esvoaçar no vento. Aquele cinza dissolvido, grudado nas íris de quem nunca sentiu aquela vírgula do seu beijo demorando um pouco mais. Quem nunca sentiu aquele ranço de ausências que se disseminam nas manhãs de domingo como súplica, Prece minha.
Desensaio uma saudade, porque não sei mais o que fazer com esse hiato, o ponto final, porque você foi mas dentro de mim não consigo te deixar ir. Essa cor estridente esmaecida das folhas no chão, porque te sinto. Riacho a bater suas asas na quietude desses silêncios, agravados de um aroma cromático. Na tela víride das nuvens dos meus amanhãs flavescentes.
Às vezes demoro, às vezes a Palavra ganha rascunhos impossíveis de se ler, unidades eternas que habitam ainda somente em meus olhos. Enquanto justifico apenas seu gosto antecipado, antes de ir, antes de alcançar teus lábios. Meu olfato te descreve. Aromatizo sofrências pra pesar menos, perdoar mais. Possíveis dimensões que desmontam entregas e aplainam tuas retinas com as minhas. Só pra soletrar o sabor da palavra dita, quando chegar em sua boca. E que verbo fiz, desabitei pra caber e compor suas chegadas.
Sopro aquarelas que se descobrem também nas fragrâncias das Luas quando tocam suas mãos. Degustações dos nossos nomes, vocabulários de cetins na pele, urgências que sempre nos endereçarão. Enquanto acordas, repouso o pincel de tinta na primeira nuvem, para namorar as vogais do Sol. Espalhar nos pulsos o seu cheiro e reergueres na maciez  que te convido, pra se saber - confissão. Uma morada onde aquele azul do lençol anuncia ser a Palavra que veste, inunda, se sabe grande;  d e m o r a d a.
Cultivo voos e imensidões reais, entre suspiros e mergulhos. Estiagens de chuvas embebidas no cravo e hortelã a colorir o dorso da nuca e o frescor dos poros.  Florescidos todas às vezes que os acordes de Bach saltam da Partitura e me ganham. A fazer desenhos no ar, redondilhas de lembranças de sua voz doce. Eis que minh´alma em sobressalto emudece, liquefaz, enquanto continuo. Eis que pressinto suas sílabas sonorizadas em meu sorriso. Nas horas onde a maresia daquele milagre te revista, te acontece.
(Fernanda Fraga, Minas Gerais, 29 de julho de 2013)

.::”E a palavra, em especial, tem esse poder extraordinário de dividir em dois o pão que não basta para um”. (Mariana Ianelli)

*Imagem do Google, site específico não encontrado.

domingo, 14 de julho de 2013

Mirante...

Pedaços soltos cingem meus dias
Me visitam sussurros sem tua voz,
Pendulam tuas delimitações
nos vãos da porta, sem aceno algum
Olho na fresta entrecortando o Sol,
Desmisturas os movimentos
Minha memória semi-presente
Olho pr´as nuvens,
deito meu cansaço na montanha mais alta.
Tentando vasculhar teus fragmentos
reflexos de paisagens minhas
E não te vejo mais,
Não mais...
Minha língua saboreia o agridoce espaço
Mirante, saudoso, vasto.
Um gris desliza nos olhos
Hoje o Mar chorou por mim.
 (Fernanda Fraga) 

:::”Reduzistes o meu universo a pedaços que navegam no espaço sem sentido, vertiginosamente, enquanto eu guardo no céu da boca para encher a tua noite de estrelas”. (Albino Santos)
*Imagem do Google, site específico não encontrado.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Sabia ser...

Tinha nos rastros
A métrica de ser além,
Olhar os detalhes, timbrar dobraduras,
Pintar cores e com elas nos dedos,
Tentava salvar a si,
Plexo Solar decorava medidas.
Viva, se despertencia do peso,
Se distraía das opressões,
Mascarava desilusões,
Tinha no abraço
A extensão do seu abrigo,
Desabrigava lonjuras,
Morava dentro do verso
Satélite de cenários encantados,
Sabedor de suas letras, vogal maior
Era amada, enquanto apenas versava
Enquanto o outro habitava dentro da rima
Paragrafo,
Pausa – aberta
Sabia ser.
Era qualquer coisa que fosse além,
Que fosse Amor.
(Fernanda Fraga)

domingo, 7 de julho de 2013

Flautas de bambu...

Aqui onde a curva de Minas sobe um pouco mais,
o Céu também ganha outros estandartes,
peça de quatro mãos.
Dali o Sol em degradê se esconde,
e é agasalhado pelo polvilho que verbera tal qual algodão doce
a deslizar em teus lábios e tua língua.
O vento faz cirandar os galhos das árvores,
que até cantam entre as frestas das folhas,
por serem flautas de bambu namorando os ouvidos teus.
Mas o Céu, ah o Céu, com suas nuvens nubladas,
também beijam aquarelas
com os pincéis dos teus olhos.

(Fernanda Fraga)

Em um dia nublado em Montes Claros – MG 04/07/2013.

*Imagem do Google, site específico da imagem não encontrado.

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Ressonância...

Olhando assim, preso emocionado olhos,
Já que não nos cabe nas mãos, incitar as águas
E todas as válvulas, artérias
e subclávias do Amor.
A todo esse fluxo à beira do Mar de tão - finito.
Porque desmisturamos o simplório.
Soubera eu da facilidade palpável do seu imediato.
Minha ressonância vibrante,
meu ventrículo esquerdo,
pulsátil - visceral.
E veio,
viu,
mas não me olhou...
Passastes junto, suspirou,
mas não quis me apreender.
Tão na pele,
descomprimia a falta,
os óstios – meu bem-querer.
detalhe a perfumar meus trilhos,
Minhas vértebras, raízes desalinhadas,
passa-te devagar.
Olhando assim, bem aqui no cume mais alto
Vejo mirantes do Sol te desenharem
Tuas dimensões deambulam sob meus cílios
Cumprem teu florescer em mim
Meu atlas, tua nota maior,
sentido meu.
Afagos e coleções de memórias me namoram
bem à nossa margem, oceânica.

(Fernanda Fraga)
*Imagem do Google, site específico da imagem não encontrado.

domingo, 23 de junho de 2013

Sua mão na minha...

 
Para a amiga e poetisa Priscila Rôde*

Distraia as mãos com o lápis de cor, enquanto os pensamentos repousavam entre uma prosa e outra, entre aquela apreensão que sobressaía e destoava conclusões de ser apenas alguém para se conversar. O coração saltitava em mil sustenidos, cada vez que, ouvimos a voz do outro lado. Longas ligações, capítulos inacabados. Aquele Amor visitando cuidadosamente à mercê do próximo olhar-sorriso. Um reino que suaviza o relógio, o compasso dos pés; e rendem-nos numa oração a cada primeiro, segundo e último minuto. Uma composição de horas feitas por afetos, a perfumar nossos olhos e beijar as mãos pra despertar que - somos o encontro. Um mover-se de lábios e vozes sombreadas sobre teus ombros e meu corpo ermo.
Seria o verso, o barco para anunciar quais destinos remaríamos? Ou por qual razão, forma, içadas as cortinas para reverenciar essas brisas; e toda saudade a tocar nossas peles? Quiçá aquela distância quando desapressada, desfera a ordem para nos multiplicar no peito!?
E então quando a verdade for nua das aflições, e o coração enamorado de esperas, que as decisões venham a ser o melhor passo, ainda que haja tantos avessos, outros desvios. Sombras impedindo Luz, tristezas incinerando aquilo que só nos dói. Abrigo você que colore o Céu de estrelas, dá asas ao que ainda nos sobra; pra preencher de nobrezas, pauta única e inadiável.
Vieram algumas trombetas, uma voz-leão moldando quatro cordas e um violino, singelas exatidões; toca-me, reescreves - eterniza. Alonga aquela vírgula e todas reticências possíveis para eu durar um pouco mais em ti.
E desse Ceú, caem pequenos chuviscos. Serve-se ele desta chuva e aquela leitura rebuscando o relógio. Olhos perenes, dias e tardes a se desfazerem. Entre aquarelas e pincéis expostos, as bailarinas refazem com gestos a palavra-poema, habitam na dança seu arcabouço solar. E eu inexata, bebo uma concha do vento, sacio a sede e você reproduz dentro daquele eco; uma ponte hasteada entre aquela nota dissonante e o sufrágio onde aplaino algumas rimas. Tateio essa floração, despida de mim e mim.
E sem temer qualquer desabor da Alma, torno-me vocabulário – jardim exposto; convite pro café das cinco. Porque antes que o grão da semente, a flor já se serve do seu perfume pra se revelar. Se despertencem dos seus itinerários para poder habitar no além dos próprios nomes. Ser a própria casa semeando algum verbo, o encontro um do outro. Aquele anseio delicado de estar a sua margem e em mim, folha por folha, olhos, pele e poros. Contramão e ao mesmo tempo o próprio infinito conhecedor das distâncias e de nós.
Eis o enamorar-se, o gênero e essa orquestra. Esse fruto, Cântico que amanhece e se visitam na mesma prosa, lírica derramada em firmamento. Aquele atalho capaz de avivar o que o peito trás de sensível ao que é pleno, ou a essa ternura em que te olho e tento bordar alguns sinais e contornos por querer segurar orando: sua mão na minha.
Mas é preciso elucidar o que tange, o que tinge a tela, ou em que ponto, em que parágrafo, em quais vírgulas, onde há algo a mais - a mais que estar do lado. Bem mais que além dele. Percebível. Que vivencia, proclama e reconhece.  (Fernanda Fraga)

*Priscila Rôde, poetisa, autora do blog Mar Íntimo, e do seu primeiro livro Para que Fiques, lançado em 2012, pela Editora Penalux

*Imagem do Google, site específico da imagem não encontrado.

domingo, 9 de junho de 2013

Desenhos e Ternuras...

E de todos esses suspiros,
hasteados – desmedidos.
Que se arrebate ao teu desenho,
na curva da tua boca;
alguma fresta a refazer cada detalhe nosso.
Uma arquitetura esboçada quando namoro teus próprios traços,
e visto na pele tua inspiração.
Bem assim, como um lembrar-de-alma;
Alonga-se o peito meu, repousa-me na ternura tua...

(Fernanda Fraga)


*Imagens do Google sem site específico.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Porto de nós...

Como não sentir-se Mar, despertencido e ao mesmo tempo
manto d´água, pronto pra desaguar?
Como não sangrar? Como não ver-se fragmentado
nesse mesmo calendário que condena,
que nos limita, e nos põe sempre inteiros um do outro?
Que dispensa a forma, a querência,
as extensões noturnas, lençóis e a própria travessia?
Aquele olhar se desviando, mas que ainda ver-se
nas íris dos reflexos alheios?
Como caminhar de mãos abertas, se com elas
querendo ou não, os lábios da Poesia sempre nos unem?
Meus dias ardem, mas não me amarguram,
Meu verbo se desfaz, enquanto anuncio, enquanto fomos.
Te apercebo abrigado em alguma história incompleta
Eu era apenas um abraço a querer morar contigo,
Sozinha – sou porto de nós.
Um verso assim sem nome, em dias azuis,
Entre aquele beijo silenciado,
Omitido em uma estrofe qualquer.
                                                  
(Fernanda Fraga, 09/05/2013)

*Imagem do Google, site específico da imagem não encontrado

sábado, 4 de maio de 2013

Das Amizades...


Amizade é o Amor mais puro. Dispensa qualquer adorno, vive nas soltura do respeito. Mora na gratidão dos olhares, na saudade que cerca, mas que não nos limita. Alça suas asas nas singelezas do seu lado mais terno. É talvez nesse ombro, onde Deus se revela através dele seu maior desvelo, enquanto o outro nos acolhe, Ele, também nos carrega forte pela outra mão, ambos - lado a lado. Bagunça nossos cabelos, feito criança a brincar no parque enquanto solta-se pipas naquele céu tão azul, a verter toda paz que se almeja. Amizade derramada pela doçura do alto é Prece, lembrança de ouvidos amorosos, coração tranquilo, tardes de peraltagens e sombra boa. Todos rentes, nas curvas a contemplar reflexos dos seus sorrisos nas poçinhas d´água. Mas quando se trata de inteirezas, honestidades e o outro calça sandálias contrárias à luz do seu caminhar. Nenhum amigo deve negligenciar, advogar e sabotar de braços dados com ele; essa desconfiguração humana, perigosa e adoecível. Que é fazer perpetuar lástimas, conversas distorcidas, só pra amassar o outro, dando glórias e razões ao que está fora do nosso livro-vida. E míngua tantas delicadezas. É por tudo isso que misturamos o enredo, vamos sempre na contramão e não permitimos que o outro resigne sua alma.
Do que mais nos foi dito, em frescor ou furor, deve-se ouvir-ver-refletir sempre os dois lados da moeda. Não é edificante o amigo 'passar a mão' na cabeça e concordar com a postura do outro. Ainda que o próprio amigo esteja errado, ainda que ele seja o réu de suas próprias ações. Ainda que pesado seja ouvir, que sua própria absolvição é endireitar-se, tornar-se Luz. Eu continuo crendo que é bem mais sereno, justo e fiel compactuar amizades assim.
Amigo serve pra abrir as cortinas de dentro e mostrar possibilidades, apontar raios de sol do outro, com caminhos de correção, de crescimento; de amorosidades, de perdão. A fazer converter qualquer resquício de ranço, preso e mofado. 
Meu Deus, faça-nos ser cada vez mais peças raras, e incrivelmente agregadoras de valores e capazes de imprimir apesar de todas as limitações humanas, nossos melhores movimentos. O melhor que podemos oferecer, sem máscaras, sem adornos. Diante das pessoas que só sabem minguar Preces, amores e amigos. Que só sabem transformar conversas em contendas  e confinar bonanças. Só para terem argumentos e arvorar suas conquistas. Acompanho silente esses adereços e toda coragem de quem se entrega e sai dos seus próprios calvários. Das verdades e circunstâncias do outro só ele é consciente, imperfeito ou não, somos todos aprendizes da Vida.
(Fernanda Fraga)

*Imagem do Google, site específico não encontrado.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

A Poesia de Deus...


De todos os desejos, que esse instante em que o tempo sereneia meus dias; sobre a graça do Pai: reverencio. Logo ao nascer, soltei meu primeiro grito enquanto os passarinhos avisavam que meu nome tornaria a Poesia de Deus. Seu tecido mais precioso, os olhos coloridos; Seu longínquo Céu. Aquela terna meninice, a mulher míope, que enxerga e não vê, mas que vê bem além; enquanto faz adágios poéticos com os dedos no papel. Aqueles desenhos da infância emolduravam meus murais, com cheiro da palavra brotada, lugarejos aveludados; montanhas com arco-íris e aguamentos. Eram meros rabiscos quiçá virariam um dia estrofes.

Esse é o tempo de todos os desejos, das marés revoltas e habituais calmarias; da semente e da figueira. Meu esboço imperfeito, da matriz de toda perfeição. Que eu aprenda a recomeçar todos os dias, pra manter-me sensível ao outro e se cobrir de Gratidão. É essa a geometria dos calendários, a certeza pra desnomear palavras e seus instrumentos no divino sons das flautas. Por ser esse o alfaiate dos segundos, o retrós de todos os vieses. Um caminho cheio de (des)encontros.

E é dessas querências tantas, que estilhaças a pele, por ser ternura toda, em todos os dias. A pegar poeira no rosto, atravessar o rio e viver bravamente suas marés da vida também. A fazer milagres no gris de suas visões, ainda que suas retinas, íris, e toda sua córnea fora bordada para vir a ser o traço, o detalhe marcado de Deus.

A sorver o sacralizar da Poesia, já feito mistério d´Ele, para que sejas seu testemunho secular. É esse o carrossel das minhas estações, sabedor das horas e das curas. De céu e de Mar. Do meu passado e meu presente. Meu futuro e a entrega adormecida, dentro de alguma espera. 
Minhas cheganças anunciam meus hiatos, com o desejo pleno, e a alegria brindada com o coração de Deus.  (Fernanda Fraga)

*Imagem do Google, site específico da imagem não encontrado.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Quando me ler...



Quando me ler, absorva. Me compreenda e mesmo que não venha a concordar, respeite. Que respire fundo diante das minhas reticências, sublimadas entre um suspiro e outro, afagadas para fazer-se viva em outros olhares. Que a integridade, que as minhas mazelas, minhas faltas, meu anseio para além do que é palpável, que seja no minimo uma edificação.
Quando me ler, apreenda-me nas pausas, esse meu solar desencontrado; meu Amor poetizado de letra maiúscula, como se palavra essa fosse e é legitimada em Ser. Uma personificação que não vira tese, se desfaz de mesquinharias, reproduz solitárias todos seus lirismos, verbos e pretéritos substanciais. Talvez um oráculo sem pretensão de virar vocabulário, mas de se renascer silentes, para adquirir asas próprias, entre um parágrafo em Prece.
Quando me ler, não ateie o parto, não mensure a dor, não me diminua. E sem apressar, revire todas as células, quando não estiver dentro delas, só para me fazer chegar ao mundo. Meu útero-alma, minha mobilidade displicente.
Quando me ler, não dissimule e nem condene - meu ofício. Meus pensamentos no arquivo escrito sem antíteses, são leves e árduos em si. E se perpetua dentro de um pergaminho sobre o sol dos Montes Gerais. Na renda que marca meu ponto, minha letra, meu riso conjugando a Oração.
E quando me ler, desafogue-se de si. E vista-se de infinitos, pra acender outros faróis e desexplicar invenções exaustivas. Vou-me na ponta do lápis, em que toda excelência modela o Verbo, redesenha memórias, pra suplantar seus milagres.
(Fernanda Fraga)