quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Letrado dedicado ao menino que voou...

Aos 7 anos, menina míope com letras miúdas, irregulares;
a escrever uma lição de casa da escola para professora Tia Raquel,
ela escolhia trechos das poesias de Manoel de Barros para desenrolar nosso letrado.
Eu treinava religiosamente minha grafia, fazia o ditado e transcrevia os versos do menino azul, do menino que carregava água com a peneira, do menino que namorava as cores das palavras e ouvia/sentia o perfume do sol. Ele dizia: “deixei uma ave me amanhecer”, “Aprendera no Circo/há idos/que a palavra tem que chegar ao grau de brinquedo/Para ser séria de rir”. 
E eu pequena perguntava aquela gente maior que a mim:
- Como ele escreve isso?
Como a gente escreve verso tia?
Eu só sei desenhar o sol com o cheiro que ele sente, a senhora sente?
Como é?
Eu indagava em casa, será esse cheiro aveludado da minha blusa,
o silêncio com gosto de jabuticaba que eu sinto quando a tia ler pra mim?
Será esse barulho que escuto quando a letra encontra com a vogal ‘a’,
junto as abelhinhas daqui do quintal? Como saber?
Aliás, a gente depois de grande sempre soube da tal sensibilidade nos faz alcançar as proximidades desses voos da infância e silêncios tão juntos aos dele. Naquela tarde eu transcrevia o primeiro verso do Manoelito, com minhas mãos pequenas, em um papel de pão, lá da padaria do seu João Vieira: “Os andarilhos, as crianças e os passarinhos têm o dom de ser poesia”. Posso dizer que foi aos sete anos com as minhas primeiras letras, a escrever as palavras dele.
(Fernanda Fraga)


*O coração dele pulsou a verdadeira imensidão poética até o último segundo, mesmo quieto, mesmo sem escrever, mesmo sem forças. Hoje é o céu que abraça a sua amplidão olhe-vos! Contemplem-no em continuidade!! Vai em paz, poeta!!

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Gabriela o beija-flor do cerrado


Quem é que vê além da linha uma vogal colorida
Com seu sabor para amaciar os olhos?
Sim, é ela a chegar dos Montes – Gabriela.
Com sua flor entre os cabelos era nomeada.
Enriquecida de vésperas e desvisões
Nos Gerais de sua saia rodada
Gabriela deambulava nas labaredas de Minas
A catar fruta da terra
Da raiz que desfolha a polpa
Costura o tempo,
Com a sede de suas folhas
Dedilha na janela seu indivisível beijo,
Múltiplo, avulso;
Bebido de mar e onda,
Sobre a fonte que recostas as promessas
Às fitas presas aos fios negros
Apascenta os alecrins.

E dar-me sempre divisas de Caatingas e seixos
Contornos aos cílios,
Que dão-te delicadeza à pele,
Ao rubro do pincel que desenha tua boca.
Mas habitas veemente entre as lascas das Montanhas
A dar-me teu colo nas pontas das curvas,
E desliza a amplidão para dar leveza aos meus pés.
Convida-me vestida de infinito,
Para sentar-me na grama salpicada de cores e milagres
No assoalho de um tecido bordado à mão;
E alimenta-me de sóis e dá alegrias aos passeios.
A fecundar com pão-de-queijo e mel.

E floresce moldurada
Para destoar na voz dos lilases de pássaros
Os versos de um canto-azul,
Asas em uma orquídea;
Pertença a latitudes
Por ter em si o perfume dos sons;
Textura dos ladrilhos,
Pétala aérea sob a casca
Teu nome na caixa do lápis de cor.

Reconheces que não há espanto?
Em fazer-te cenário maiúsculo a esse?
És coberta de rios
Descoberta para fitar a palavra do papel
Refazer a casa, o caminho, namorar o amanhecer.
Para endireitar-me para além do apreensível.
Chegas assim, revelada para a beleza:
Quem é que vê além da linha uma vogal colorida
Com seu sabor para amaciar os olhos?
Sim, é ela
Gabriela o beija-flor do cerrado.

(Fernanda Fraga)


segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Um olhar, longo de horas...

Dilato aquela cor úmida
A estrada de abismos,
E nos pés Claves,
aguadas de encantamentos,
Teu corpo no poema
Letral de pedra oculta, sulcada;
Quase já não sei de ti
Que fosse o perfume
A vestirem sobre o teu Sol,
Que fossem as areias temperando nossos mares,
Que fossem tácitos os dias,
ébrios para endivinarem o fio
Que quase tocam o boca.

Ocupo-me por essas versões inteiras
Encostadas ao cair da tarde
Porque quero haver o fluxo azul
De um sombreado à caminho
Um olhar, longo de horas
Para abastecer líquidas as mãos
Sobre o mapa.

(Fernanda Fraga, Botumirim – MG, Maio de 2009, *um dia frio e longe, bem longe de casa 

*Imagem do Google, não encontrado a autoria real da imagem, caso saibam enviam-me para fazer a creditação.   

quinta-feira, 19 de junho de 2014

À borda...

Traça-se à borda das palavras
Um poema a se erguerem aos Corais
Abrir as portas e afiar os teus voos.
Enamorei vendo o plantio das cores das nuvens,
Das uvas sobre o ruído violeta
Que desliza por dentro do aroma,
Num fino respingo entre todas as luzes
E por baixo o cheiro macio
Talhando as flautas.

Revelam-se os meus espaços,
Crispados; excêntricos, puídos.
Os enfeites dos laços do Sol
a língua dos pincéis sob nós dois.
As seivas, as folhas, teus aléns tombados em mim.

Percorrera o chão, os abismos desabitabitados
A letra dobrada do verso
O aceno circunscrito
enquanto o vento, robusto
percorre os meus passos
E modula minhas mãos
Aos traços, as linhas, a essa imensidão.

Porque teu olhar é farol
Onde nascem as brisas, aquarelas úmidas de êxtases;
O sossego caminhante.
E à beira das asas apenas meu sobressalto:

Posso dilatar as horas, saborear os flocos das nuvens;
poemar o romance enquanto esse Pássaro nasce?
Posso demorar-me em ti?  
dedicar-me a essa linguagem bendita de Preces?

Posso contentar-me hoje com esse Divino resplendor;
E me sentir inteira, infinita,
poemando o meu sorrir em tua primavera?
Posso regressar meus silêncios;
e ainda assim me saber presente?

Posso ver-te esquecido dos dias;
E cumprir contigo os encantos e as profundidades
Num bem-querer que se revira em nós?
A todos os milagres e abrigos;
E aos inevitáveis confins da memória,
que absorve tua matéria serena;
a contemplar nossos infinitos.
(Fernanda Fraga)

*Imagem do Google, não encontrei a referência do autor da imagem, quem soube pode mencionar aqui, que insiro a autoria.

sábado, 10 de maio de 2014

Reflexões...

Acordou-me desde o raiar do sol.
Aquele peso nos olhos a distrair os trechos
que ensinam-me a encontrar nos teus cílios,
os horizontes do não-estar
o lápis que grifa minhas certezas,
a destruir o caos.
Impulsionar os remos
Aplacar o Nau
Atravessar as melancolias
E os reflexos de mim,
Lições de ti;
Reflexões de mim;
Oblíquas revelam-me as sombras
Verticais somam-me ao Céu e a Terra,
Horizontais ampliam-me dos meus (des)caminhos
Todas as desordens e transparessências
Confinam-nos para vir-a-ser a imensidão.  
De tons vazados
Com esse pincel angulado,
deslizo em tuas ausências
Tateio de olhos fechados
Toda tessitura dessas raízes,
tua barba por fazer;
tua voz macia, o grave arcabouço que se veste ela
e fala-te a mim
Sob as asas, os flamingos rebentam sinos,
a pincelarem aquarelas aos meus invisíveis.
Singram teu aroma, um punhado de abstrações férteis, prontas;
dispostas a romperem tuas desatenções e repetidos sabores
E foi esse o inconfessável: te pontilhei.
algumas galáxias foram-te reveladas.
Apesar de toda lonjura, das gaivotas a suspender no vento,
o desnorteio do amanhecido dia.
Como não pontuar tuas margens, se elas me levantam voos?
Nos lambe os lados, debruça-nos nesse labirinto de parecença e deslimites.
Algumas gotas deslizam
por todo cotidiano dessas retinas,
máculas;
córneas;
íris;
pupilas;
escleras,
Navego por essas gradações adulteradas
Nos trilhos nenhum pouso dissonante
dos teus timbres a inaugurarem minhas horas
Sorvo dos teus sorrisos
Mar de tuas apreensões
a colorirem minhas entregas
Releio teu nome, nas letras.
(Fernanda Fraga)

domingo, 23 de março de 2014

Tens de mim...

Tens de mim todas as estrofes. Luares onde aprendo silenciosamente a guardar-me em canção. Tens tanto de mim a transbordar nos Lagos, nos montes. Nas tardes em que a chuva te bebe, te saboreia, e colore tua pele. Enquanto minhas mãos, te afagam e te fazem sinfonia e minha amplidão. Invento gaivotas, para confessar cantante o tom da tua voz. E os desenhos das tuas asas, para que eu seja templo para o teu pouso.
Terra sossegada em que repercutem manhãs. Paisagens que se enfeitam e engravidam nas migrações do meu perfume. Pois tens vestido de ausências e soube rima navegar contigo. Onde meus gestos se sustentam a reger toda pintura e entornam o teu Sol. Tintilando cintiloso - a confessa vibração do teu nome. Que só sabem tocar a minha boca. Tens pássaros e lascas de giz de cera. Pondo-se em cores a se ascenderem onde não estás. Poente és tu quando voltas. Verso-te com a mesma sonoridade - quero de(morar) no teu beijo.

(Fernanda Fraga, 13 de março de 2014)

*Imagem com autoria não encontrada.

domingo, 16 de março de 2014

Dos encantos...

 Tenho um verdadeiro
e n c a n t a m e n t o
por pessoas

d e l i c i o s a m e n t e

bonitas

de

A l m a.

(Fernanda Fraga, 13/03/2014)

Imagem do Google, não encontrei o site da hospedagem da imagem.

sexta-feira, 14 de março de 2014

Para Ela...



Ele ergueu as mãos, do Seu verbo fizeram-se as esferas e Estrelas salpicadas no Céu, Tua semente parábolas nas montanhas. Do barro rimadas auroras sobre o papel. Asas aos Cânticos, Ciência e Palavra. Eis que, a primeira Poesia que nasce, é a de Deus. São as palavras confessionário em que o poeta colore os cinzas dos dias e dá voz aos teus próprios silêncios. A Poesia é a ponte, travessia para alcançarmos caminhos, mesmo que nem eu saiba onde. Apenas me faço instrumento para anunciar e aplainar meus próprios trajetos. As sílabas, vogais para redenções das minhas luzes e trevas. E aos outros me são os seus encontros, feitos de úteros, partos, línguas, beijos e infâncias.
Versos que assopro para irem, onde tiverem de ir. Ainda que os horizontes estejam em lugares outros. Ainda que as janelas sejam apenas aquela diminuta marquise de nossos interiores mundos. Ainda que distância regressou-se do cais. Ainda que de promessas nos rompeu os amores. Ainda que de amores se fez o Eterno. Ainda assim a imensidão de nós nos é afinada a essa potência, chamada Poesia e habitada de nascimentos.
(Fernanda Fraga, 11 de fevereiro de 2014)

*Em homenagem ao dia 14 de março, dia nacional da Poesia.
Imagem: Efi Kokkinaki 

segunda-feira, 3 de março de 2014

Vidral...

Olho-te entre as planícies, estes jardins a alimentarem os meus olhos. Florais que me são como vales, embebidos para percutir nos lábios dos rios  – dos teus amanheceres. Meteoros de um dia que não finda, que não perdura nas fendas, que não sacia minha boca. Suspensa, abocanho tua gravitação; a tombarem, a rangerem, a afagarem na sabedora pétala, onde o meu verbo em ti infinda um pouso – d e s á g u a.
Aninham-se alguns cílios de império botânico, lacrimejam-se nas pálpebras da intacta espera. Acaricio-os, enxugo-os para ver todas as Luas nascerem, rebentas no aqueduto de tuas lembranças que me são como tímidos trovadores de pintassilgos. E nos perdemos em que ternura, vestiu-se de hiatos. Assim soltei um manancial de visgos para reacenderem meu fôlego pelo Infinito.  E guardar esse relicário de bem-querer nas frestas de nós dois.
Emparelhados os vaga-lumes vagam nas facetas ósseas. Frouxidões de feixes escolióticos, entre teus dedos que jamais romperam a amplidão de nós. A um amanhã que trespassou meus ontens. E rasuraram eloquentes nas fáscias aderidas sob teus silêncios. Espaços de uma moldura a dissolver o que não coube para tuas promessas. Insones vaga-lumes voam nos vasos, nos vãos do lume. Em um vidral pendurado na memória a refletir o céu dos dois lados.

(Fernanda Fraga)

*Imagem site Google, sem especificação fidedigna da autoria.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Teus passos...

Deixa-me ouvir estes versos
Tecidos entre os regados dos pés de maracujá
A vazar-se nos candelabros
Nos feixes murmurantes, dos teus olhos de infinito.
Por sob a maresia que perdura o teu espaço,
E silencia em todo o vão,
E descarrilam-me arraigados
Para habitar-se no oceano e nas persianas do céu.
E inevitavelmente transitam
entre as conchas de tuas demoras
Tuas horas vislumbrando o tempo.
Uma saudade sem ter cais,
Um barco sem o teu porto.
Essa exatidão onde verso falta tua.
Essência que desafogou os medos
Fragrância a se deslizar na pele das minhas mãos
Enquanto cultivo rimas para os teus dias.
Ponte tecelã a desenhar,
a geografia dos teus passos.

(Fernanda Fraga)


Imagem: Beatriz Martin Vidal.   

sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Transbordamento...

Claves de girassóis e samambaias timbram as cortinas.
Sabiás transbordam-me em suas flautas transversais,
O azul risca a quilha da água. Teu nome na moldura da nota,
Teu verbo perfumando as palavras
Dedilha na cítara os sons de tua boca,
Meu verso te sobre(voa).

(Fernanda Fraga)

Foto de Marcelo Cazani: Flickr

quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

Anunciação...

Assustei a pouco por sob o som rebuscado de tua anunciação
A milagrar fortemente entre os lençóis
Num campo flórido dos oboés
Que prenunciam os teus versos
Éfebos de avidez,
Amplidões em cenários, de araras e jacarandás.
Aragens em degradês flamejam,
Sereneiam os pés, os meus,
Nossos passo - a - passo
Descansais noutro Sol – comigo
Tuas mãos me atravessam o b l í q u a s
Em praia desabitada
Enquanto te espero, reescrevo,
Ali, sob os raios,
[de estrelas, sumidouros e bem-te-vis]
Os lábios se umedecem atravessados ao vento
De um ar leve,
Do vasto algodão,
Ruía macio, entre a pausa sonora.
Para além de tuas cordas vocais
Embebidas de tuas margens
Que também me anunciam.

(Fernanda Fraga)


*Imagem do Google, site específico não encontrado.