sábado, 7 de janeiro de 2012

Flor-semente...



Gosto de cuidar com paciência do meu jardim que cresce a passos lentos e ressurgi sem o medo das tempestades da inveja, do (des)amor. Da Fé semeadora onde o desprezo, amargura, o descaso; do amor não correspondido não aniquila o meu agora e nem o meu depois. E se a espera de possuir a colheita da flor-semente, dos versos trocados, das palavras cultivadas, da eternidade que não germinou nosso presente. E cujo resgate possuía, ou melhor possui, o adubo da célebre-terra, do cuidado seu; do jardim que nos possui, do beijo que não se esqueceu de resgatar e nem de devolver. Possuir, sem p-o-ss-u(ir), sem nos alcançar. Se por hora às vezes vivo na travessia desses questionamentos, a vagar perguntas sem respostas sempre na mão dupla. Por entre encontros que não acontecem e não se consomem. Do alcance inatingível, onde todo meu voo tem a leveza da brisa que alcança e abraça a prece rogada a Deus.
Do breve e tímido silêncio que carrego em mim enquanto faço a varredura das folhas nesse chão onde meus pés diariamente deambulam e vislumbram plantar as melhores sementes. Embora com o corpo fragilizado das colheitas e plantios anteriores. Luto todos os dias para que as águas do mar nebuloso não naufrague os ramos, as rosas, as poesias; o florescer do Amor que creio.
Ainda em êxtase, o firmamento tenta anunciar seu desporto num cais qualquer, como noutro tempo, como aquele bem-querer do moço em minha idade pueril, aquele marcado, aquele cuja as forças dilaceram em dor intermitente, aquele cujo o céu azul desbotou por temporadas a fora e pariu nos meus átrios uma fecundação em flor poética. Possuir sem possuir-te.
A casualidade fez da minha inadequação passada separar melhor meu plantio, cuidar do agora, dos floreios, das mudas. Embora arrisquei algumas sementeiras que não vingaram, mas veio fazer-se também estória. Talvez uma algia me ocorre e arrebata os punhos há três meses, um cansaço nos joelhos por ficar prostrados no chão por dias a fio, onde regi ou tentei fazer-se janela; paisagem sagrada a espera de brisas. O espaço onde meu Amor foi fazer-se grande demais, capaz de abargar aquela abertura vivida, a assustar o brilho do girassol. Um dia noutro tempo, uma época em que não aconteceu, ele afongentou-se covardamente. E ela, nem sabia o que viria a ser hoje seus dias e vivificar a mística narrada outrora em seus puéris tenros anos. Ao passo que sua coragem já ditada antes mesmo de saber qual voo flutuaria seus pés por sob aqueles desenhos de quando pequena rabiscava o papel do pão: ela e ele passeando de balão. Qual seria a cor lilás da rosa que plantou. Dos sussurros e ar(dor) do íntimo dele dentro de mim, a tentar possuir no atrito das epidermes cavernosas, naquele espaço apertado, úmido-quente, difícil; só para romper as membranas, os vasos sanguíneos fininhos dentro, bem dentro e consumir-se mutualmente os dois, fazendo-se apenas um. E o coração saltitava e desencontrava a confessar sentimentos, enquanto preparava sua terra, desde sempre. Assim em todo o tempo arava esses espaços, de ciclo a ciclos, recompondo os vãos. Enquanto a impossibilidade das aragens, ou mesmo das tempestades tentavam arrombar e carregar o Crepúsculo de dentro de mim.
Foi então que eu me convenço que esta dor doutro tempo me acompanha e se repete e me faz ser opositora de mim mesma. Porque encontro novamente ao que me fez perder os eixos, mas ao passo que, pus-me a mudar a rota; traçar os descontornos do chão, n´uma nova anatomia radiografada. Porque vejo e inspiro que o raio do Céu firma a luminosidade das rosas, aquece as raízes a se move e a pousar no campo escolhido, sem intenção de te escolher.
O gosto doutra época, incinerava minhas inquietações e fui-me para outro rito. Almejar alguma reciprocidade, mas tentando arar o adubo novo, as sementes e mudas semicoloridas, sem pretensões. Só predispondo eternizar o verdadeiro. Carregar mesmo com os espinhos, Cravos, Girassóis, Tulipas, o Amor nas minhas próprias mãos e preparar o solo. Afinal, após as chuvas, a terra se alimenta, se desmancha. Sendo mais propício para o plantio.
Exala em toda a parte do quarto uma continuidade de perfumes amadeirados e feminis, inspiro ar fresco a hortelã que a pele dele liberava após o banho. É o convite da Vida, onde os cuidados com as pétalas fará amenizar as dores, pincelar com destreza os raios de Sol e essa Flor que se multiplica em meu peito.

(Fernanda F. Fraga)
PS. Imagens do Google, sem site específico.




5 comentários:

Quintal de Om disse...

E o sorriso é flor bonita que no meu, garanto o cultivo e perfuma meus dias quando me adentro assim, nesse seu jardim.

Sam

Rafaelle Melo. disse...

"Foi então que eu me convenço que esta dor doutro tempo me acompanha e se repete e me faz ser opositora de mim mesma. Por que encontro novamente ao que me fez perder os eixos, mas ao passo que, pus-me a mudar a rota; traçar os descontornos do chão, n´uma nova anatomia radiografada."

Lindo isso, Fê!

Dentro de cada um de nós, lá escondido do mundo apressado, habita o mais belo jardim. Penso que a felicidade seja a constante surpresa de plantar sementes, regar afetos e cuidar das pragas.

Beijo meu!

vanessa cony disse...

Pois agora com calma voltei...Voltei para fazer parte desse novo tempo.Voltei para dizer que amor sempre é amor.Amor é semente boa e nunca,nunca semente ruim.Portanto ,o que faz a diferença é justamente o solo que a recebe.
Por conta disso,cuide com carinho do chão de teu coração.Regue,deixe a luz do Sol penetrar,afofe para deixá-lo macio.Retire as ervas daninhas do nãoamor e espere...Espere o tempo das chuvas passar.Confie no tempo e irá colher o melhor dos sentimentos.
a flor mais linda será essa,essa flor que nascerá no seu jardim.

Luana Barcelos Dantas disse...

Fê..complexo...mas lindo..beijos
Luana Barcelos Dantas

Lê Fernands disse...

gostei. eu tbm aceitei esse convite da vida.


um bj com carinho, minha flor!