Dessas partituras desnudas
Deambulo o entrelaço do Amor-perfeito
Da erva-cidreira, bem-me-quer e Haikai
Desço sobre areias, enquanto as estrelas tateiam com suas pontas, tuas mãos.
O soprar das brisas, me contornas no lápis,
Mas guardei por descuido, esse Querer; longamente
E agora há um vão aberto na alma rabiscado por teu giz-de-cera.
Onde o soberano silêncio escoa o bojo das palavras por entre ventanias, a ser esboçar em mim
Agora sei - esse tom é outro e desconfigura o prumo e toda Poesia.
Estacou sobre a luz a poeira dos olhos,
Parecíamos ter o mesmo caminhar,
Debruçados aos sussurros de uma Bossa Nova
Do arpejo cinestésico dos meus olhos, das suas Dunas;
Da valsa; das conchas nas águas
Da elegância dos cavalos marinhos;
Das gaivotas a sobrevoarem a fiel e sutil demora dessas pausas;
Do horizonte de uma janela que não temos ou de um porvir
Eram tão-somente via lácteas navegantes,
De um Reino que ele mesmo entrou.
Equalizado e sidério, por vestidos de seda, gravetos e gravatas.
Por versos que correm e trasmutam léguas e des(encontros)
Dos relógios, engomando nuvens
A decompor as horas, os lábios improvisando o riso
E assim, vagaram até a rodovia final,
Enquanto ela repousava serena em seu ombro;
Tentava afagar algum toque, ser presença; soprar algumas plumas de nuvens por ternuras e beijos: pra te alcançar.
Bastou o nado, as braçadas, sendo em vão.
Exausta, seus braços não lhe alcançavam como dantes
Ele estava a deixá-la na próxima parada,
Verberava entre as folhas, os trilhos, enquanto suspirava vestígios;
Sem saber o gosto, sem saber de suas marés – de rebento.
Filha das ausências desfolhava sonhos
Em teu colo segregava um esvoaçar murmuroso
Eflúvios silenciosos concediam alvacentos de suas histórias desencontradas;
Seus suspiros, sua imagem enamorada.
Estrela cujo seu convés purpurava sua noite, mas como era maré; dela se escondia.
Preludia palavras e seus sons saltavam-se; ele já em despedida.
E o Amor quando está recolhido sob sombras, diante dela alumia.
Agora embala suas próprias utópias
Pincela o Céu com seus dedos trêmulos, inalcançáveis.
Nauta seu Reino, com um canto perdido e âncoras soltas
Ele floreado do próprio vento – serpeia quieto seu úmero
A chegar no último sinal vigoroso
Enquanto seu corpo feminil reclinava por um instante ao pastor de suas tardes.
Não sabia, mas o olhar reflexivo dela a faria ser a saudade presente, enquanto era o Amor o tempo todo.
Respirou forte com a fronte deitada ao seu lado;
Ressoou o último rugir do Trem; última onda, pávida revelante.
O moço virou-se, pediu-a para ir e descer, e entregou-lhe junto as suas partituras um papel de letras embaralhadas.
A distância era a desculpa; e suas intermitências e o fazia represar todo o sentimento.
Deixou-a trépida, vestida de aurora a menina foi,
E engoliu à seco todas aquelas linhas, todos os Reinos, toda a Nárnia em Poesia.
Longo silêncio, tropel de tempestades no peito frágil
Quieta, contemplava sedenta seu infinito, onde acreditou ser seu bem-querer em pele, vogais, e reticências tantas.
Parou os trilhos, harpas flamejantes. Desceu ainda olhando pra trás, banhada pelos primeiros
raios daquela manhã, quase desfaleceu.
Enquanto aqueles trilhos já iniciavam a nova viagem, olhou novamente pra janela, a espera somente que do outro lado ele a dissesse que voltasse, que o que foi vivido naquele Reino, de Ilhas; e Montes e cumes Santos, teve um Querer; foi real, foi além das próprias palavras. De suas peles e almas, que se escolheram.
Surpresa prendeu o ar, envolta ao vernal da brisa em seus cabelos.
Apertava contrita o esterno, olhava aquelas linhas, a revelar o avesso do seu sentimento e a dissipar a canção dissonante do moço.
Ouviu, leu, silenciou...
Depois de ter recebido os pincéis das mãos dele, as partituras, stacattos e estrofes inacabadas... Virou trêmula, carregada de notas lirícas foram feitas suas lágrimas.
E devagar, seus pés tocavam um chão desconhecido agora. Não havia palavras mais e nem menos a ser dita, ficou muda; foi um não caber em si.
Seus passos iam lentos em uma estrada sem nome, se endereçava às primeiras Colinas.
Enquanto o Trem seguia, tacteava algumas rochas, ignotas em desventura. Tampou com a mão um dos olhos, o sol já dilatavam as pupilas e seus olhos claros. E foi pausando leve, afinando os tímpanos no crepitar dos trilhos a levarem o moço.
Sentia enquanto subia o Monte, o passar pelos seus pés: as Estrelas, a Ilha que alçava o frescor junto as formas sinestésicas; de todas as suas vastidões. E aquele cheiro de canela, mentol-amadeirado e do gengibre, aguava ainda sua boca. Da sua barba por fazer, seus lábios, e infundiam o além no oceano.
E aquelas sim; as formas geométricas musicais das Minas e das Dunas, do queixo quadrado, eras tu.
Engoliu à seco, todo aquele cais, e lonjuras incontestavéis, recolhidos por ele e todo e qualquer tentativa que se desinsuflassem entre os sibilos daquelas entrelinhas. Assim o Amor errante prefere não se desdobrar mais diante dela. A menina agora ficará por algum tempo em um Monte, chamado Sião. Até que, amorosamente o bem-querer se deslize nos origames de algum papel mâché.
(Fernanda Fraga)