sábado, 18 de agosto de 2012

Quando a Alma nos dedilha...

Da varanda aqui de casa o Sol areja os glóbulos e dentro deles pressinto longos silêncios escoando o fluxo. Umidificando os vãos da tua ausência nas beiradas dos olhos. Um Céu inteiro à margem dessas rasuras a compor quaisquer traços, que costurem e desfaçam qualquer medo, que regulem as ampulhetas desse estreito labirinto. Cujo mistério alteia entre o rio e o mar, entre o apressar e o permanecer; entre calendários e esperanças. Onde as vírgulas vez em quando visitam seus olhares, rangem uma espera, nomeiam verbos. Descalça os pés pra vislumbrar o pôr do Sol, num balanço bom e cálido pra demorar mais o ar em mim. E insisti refletir sob suas retinas, junto as minhas um riso; um pouso que alongue na minh´alma portas-janelas e algumas travessias em degradê.
Por isso, perpetue esse clarão, prolongue e alinhave os dias, mas não os soluços. Mova as estrelas e os suspiros, os arabescos rochosos, mas também nebulize o peito nublado. O céu rarefeito; furta cor: de um ser, estar à dois. Durável às brumas e a flor. Nos poros onde a solidão agora conjuga arrepios; emerge chegadas, sucumbi a aurora nas plantas dos pés.
Eriça, comungue a sede e perdure as horas nos pedaços de mim mesma, quando eu já não me encontrar mais. Destelha os alicerces da Saudade, combina com o amanhã um encontro menos esperançoso, uma dor que não aperte tanto, um querer nítido, óbvio capaz de celebrar outros reinos. Capaz de acreditar em nós, mesmo que não sejamos mais. Capaz de recolher as lágrimas e os desabores do beijo não dado, das mãos abertas; da mala feita, do grito.
Capaz de reencontrar noutros sorrisos, noutro tempo, noutra rua e contar que o desafino, o descompasso não era o do encontro das palavras, mas de um desconforto, um receio que não era meu. Porque eu me permitia sair das fábulas, das letras e ir pelas esquinas de mãos dadas contigo o tempo todo se quissesses, enquanto que o rodapé de sua insegurança era sua margem principal. Capaz de libertar sim, mas o desamor, os despropósitos, o faz-de-conta; ou qualquer discurso não-poético, irreal que diminua a nobreza dos sentimentos. Onde aquelas expectativas, o querer-bem fossem pautados por ti como algo inalcançável; custoso, fardo em tuas costas.
Enquanto o brilho solar dança e faz dobrinhas na íris pra ser a contramão dessas sombras e de um adeus que não teve encontro. Um origami equatorial nos olhos floresce, tenta perfumar o peito, num jardim àquela serena flor: despetalar.
E no fundo, desses planos pra trás, dessas passagens compradas; dos versos engavetados. Fica essa ternura que agora vira silêncio, valsado em Jazz. Uma Bossa Nova desfazendo nós, o timbre em lágrima, sob os olhos vira Sol, quando a Alma nos dedilha.

(Fernanda Fraga)

PS.: Imagem do Google sem site específico.





3 comentários:

Aline Goulart disse...

Obrigada Fê pela sua visita. Que texto maravilho. Adoro as metáforas que você usa brilhantemente para descrever um sentimento. A ternura permanece, apedar de... Lindo! Beijinhos.

. disse...

É bom experimentar um pouco da natureza, nos olhos, nos cabelos, no corpo, por que ela traz paz.

Abraços, texto leve e arrebatante.

Poeta da Colina disse...

O som da alma ressoa na vida.