sábado, 10 de agosto de 2013

Se sabe grande. Demorada...

Eis o meu gosto crucial pela subjetividade. Articulação milagrosa, nascida venturosa, aplacada de amanheceres. Eis que me encontro nesse ofício de detalhar os timbres, sinergismo de cores. Imanente encanto de perfumes, quando o Mar me ler. Pouso algumas distâncias pra entrecortar nossos suspiros. Antagonistas de frases soltas pra se esvoaçar no vento. Aquele cinza dissolvido, grudado nas íris de quem nunca sentiu aquela vírgula do seu beijo demorando um pouco mais. Quem nunca sentiu aquele ranço de ausências que se disseminam nas manhãs de domingo como súplica, Prece minha.
Desensaio uma saudade, porque não sei mais o que fazer com esse hiato, o ponto final, porque você foi mas dentro de mim não consigo te deixar ir. Essa cor estridente esmaecida das folhas no chão, porque te sinto. Riacho a bater suas asas na quietude desses silêncios, agravados de um aroma cromático. Na tela víride das nuvens dos meus amanhãs flavescentes.
Às vezes demoro, às vezes a Palavra ganha rascunhos impossíveis de se ler, unidades eternas que habitam ainda somente em meus olhos. Enquanto justifico apenas seu gosto antecipado, antes de ir, antes de alcançar teus lábios. Meu olfato te descreve. Aromatizo sofrências pra pesar menos, perdoar mais. Possíveis dimensões que desmontam entregas e aplainam tuas retinas com as minhas. Só pra soletrar o sabor da palavra dita, quando chegar em sua boca. E que verbo fiz, desabitei pra caber e compor suas chegadas.
Sopro aquarelas que se descobrem também nas fragrâncias das Luas quando tocam suas mãos. Degustações dos nossos nomes, vocabulários de cetins na pele, urgências que sempre nos endereçarão. Enquanto acordas, repouso o pincel de tinta na primeira nuvem, para namorar as vogais do Sol. Espalhar nos pulsos o seu cheiro e reergueres na maciez  que te convido, pra se saber - confissão. Uma morada onde aquele azul do lençol anuncia ser a Palavra que veste, inunda, se sabe grande;  d e m o r a d a.
Cultivo voos e imensidões reais, entre suspiros e mergulhos. Estiagens de chuvas embebidas no cravo e hortelã a colorir o dorso da nuca e o frescor dos poros.  Florescidos todas às vezes que os acordes de Bach saltam da Partitura e me ganham. A fazer desenhos no ar, redondilhas de lembranças de sua voz doce. Eis que minh´alma em sobressalto emudece, liquefaz, enquanto continuo. Eis que pressinto suas sílabas sonorizadas em meu sorriso. Nas horas onde a maresia daquele milagre te revista, te acontece.
(Fernanda Fraga, Minas Gerais, 29 de julho de 2013)

.::”E a palavra, em especial, tem esse poder extraordinário de dividir em dois o pão que não basta para um”. (Mariana Ianelli)

*Imagem do Google, site específico não encontrado.

2 comentários:

  1. Também prefiro o que é subjetivo. Objetividade em demasia cansa.

    Abraços

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  2. "[...] Desensaio uma saudade, porque não sei mais o que fazer com esse hiato, o ponto final, porque você foi mas dentro de mim não consigo te deixar ir."

    Fêfê, o texto é lindo, sensível, como tudo que você escreve, mas eu achei esse trecho tão meu, tão "feito pra mim".

    Estou encantado.

    Um beijo!!!

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