quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Paper...

Sob o papel repousado em meu colo, tento fazer do Amor algum esquecimento. A qual coração se deveria envolver com laços de seda - e qual com arame farpado? Observa-se a facilidade em estender as fitas e amarrar suas pontas em belos nós, belos ornatos. Pronto: o elo foi instalado, a ponte estabelecida. A dona beleza passa a fazer visitas constantes. Os lábios se umedecem de viçosas esperanças. Uma mudança. Uma pequena brisa. Uma outra estação dá boas-vindas. Desponta um sol ligeiro, um calor cujos raios levam um toque pro mais fundo, e a tempestade faz bagunça nos esconderijos internos. O leque de possibilidades oferece suas abas ventilando ares sulescos ou meridionais e o coração presidiário, acostumado ao sufoco e grades, mostra que não quer respirar ainda... Deixando-se levar pela tempestade, compra passagem no vento mais forte pra ir-se e não receber o sopro que lhe traria a suavidade almejada. Não suporta o carinho da brisa. Logo se vai bater em outra janela, pedir pão em outra porta. Quando um laço de seda fecha um cofre há que se vigiar pra que leviandade metálica dum outro coração não lhe corte o enfeite com sua tesoura e comprometa seus ricos tesouros. Sabe aquele papel no colo, o laço de seda e os lábios úmidos? Bem, o papel foi maculado por essas palavras tristes. O laço de seda recebeu o desnó. Os lábios - pobres lábios! - ressecaram na aridez do beijo que não veio.

(Fernanda Fraga & Moreno Pessoa)


Imagens: Weheartit

domingo, 23 de setembro de 2012

Teus timbres...

Voava pra ficar perto das Estrelas,
Enquanto o chão refletia
o Céu azul.
Um punhado de refrães
escorriam nos dedos,
Quatro cordas dos teus raios luziam
Extasiado no alto dos teus ombros,
o Sol pendia nos sons dos violinos
Súplica exaltada, lira que se desembrulha no ar.
Sussurras, tuas mãos me sabem os lábios;
adentre em mim nas nuvens - poesias,
Ecoa nos respingos da chuva,
beijando sob teus timbres
os poemas da boca,
Escoa,
Me enamora.

(Fernanda Fraga)

Imagem: Wallcoo

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Do Eterno...

Pois o cair da noite, por si só, nos guarda na memória, 
Vibram na acústica inócua da alma, onde meus onténs somam a ti.
Amei, como nunca havia amado; e é como se a porta abrisse 
E o escuro céu sumisse feito vento manso, afinal,
Quantos não sabem ou veem, o possível habitar dentro do outro? 
Em mim te encontro e me permito a pausa para os arrepios;
Posso sentir o peso dos beijos nos ombros subir até minha nuca,
Como se houvesse um segundo, esquecido pelo tempo, para nós.
Não cogitei a possibilidade da lágrima, esta orla enfeitada nos olhos,
Que deixei repousar em tuas mãos enquanto eu te alcançava. 
Não volte para me roubar, levar o que guardei das nossas histórias,
Ninguém chegou tão perto, sem ser teu peito, a sentir meu coração,
Tão pleno pulsando. Como você encontrou coragem de ir?
O fremir do tempo convoca teus espaços, 
Pois minha saudade não é do seu agora, 
Nem dos gestos anunciando os labirintos propostos,
Mas de um passado tão presente; do seu queixo quadrado;
De suas confissões precipitando a distância
Subverto assim destemida, tão cautelosa.
Urgente.
Uma eternidade para nosso amor.

(Fernanda Fraga & Cáh Morandi)


sábado, 8 de setembro de 2012

Morada...

Eu queria ter uma morada pra abrigar meus sonhos todos, e um coração capaz de afagá-lo.
Para que eu possa na solitude desses dias indagar na música, com uma pausa. Um para-tempo pra você me olhar por dentro. Eu queria mesmo era abraçar num Solar dessas Palavras todas, os reflexos de mim em teus olhos. Aquele pedaço cá dentro reconstruindo, aquele vento que compõe na pauta uma Prece e entreita num espaço, num contra-tempo de nós dois.
(Fernanda Fraga)

Imagens do Google sem site específico.

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Frente ao Mar...


Repare que o transitar por acordes das ilhas ondulosas.
Faz-nos ser e versar lembranças no dissolver dos horizontes
Dos traços, das areias; dos olhos a se verem, como sempre se viram - se desejaram;
Desse recusar oceânico, no trafégo lento da solidão nas conchas
E tuas distâncias arpejam caminhantes, enquanto respiras; enquanto molhas os pés
Enquanto o Amor lhe convoque,
Enquanto silentes – avistemos; as ondas,
Pois somos como dois sóis, um do lado de lá;
E ao navegar preescreves,
Feito ele quando sopra; em seus lábios semibreves
Sob o Sol dos teus cabelos,
E a menina salteia inteira; frente ao Mar de si mesma.
(Fernanda Fraga)

sábado, 18 de agosto de 2012

Quando a Alma nos dedilha...

Da varanda aqui de casa o Sol areja os glóbulos e dentro deles pressinto longos silêncios escoando o fluxo. Umidificando os vãos da tua ausência nas beiradas dos olhos. Um Céu inteiro à margem dessas rasuras a compor quaisquer traços, que costurem e desfaçam qualquer medo, que regulem as ampulhetas desse estreito labirinto. Cujo mistério alteia entre o rio e o mar, entre o apressar e o permanecer; entre calendários e esperanças. Onde as vírgulas vez em quando visitam seus olhares, rangem uma espera, nomeiam verbos. Descalça os pés pra vislumbrar o pôr do Sol, num balanço bom e cálido pra demorar mais o ar em mim. E insisti refletir sob suas retinas, junto as minhas um riso; um pouso que alongue na minh´alma portas-janelas e algumas travessias em degradê.
Por isso, perpetue esse clarão, prolongue e alinhave os dias, mas não os soluços. Mova as estrelas e os suspiros, os arabescos rochosos, mas também nebulize o peito nublado. O céu rarefeito; furta cor: de um ser, estar à dois. Durável às brumas e a flor. Nos poros onde a solidão agora conjuga arrepios; emerge chegadas, sucumbi a aurora nas plantas dos pés.
Eriça, comungue a sede e perdure as horas nos pedaços de mim mesma, quando eu já não me encontrar mais. Destelha os alicerces da Saudade, combina com o amanhã um encontro menos esperançoso, uma dor que não aperte tanto, um querer nítido, óbvio capaz de celebrar outros reinos. Capaz de acreditar em nós, mesmo que não sejamos mais. Capaz de recolher as lágrimas e os desabores do beijo não dado, das mãos abertas; da mala feita, do grito.
Capaz de reencontrar noutros sorrisos, noutro tempo, noutra rua e contar que o desafino, o descompasso não era o do encontro das palavras, mas de um desconforto, um receio que não era meu. Porque eu me permitia sair das fábulas, das letras e ir pelas esquinas de mãos dadas contigo o tempo todo se quissesses, enquanto que o rodapé de sua insegurança era sua margem principal. Capaz de libertar sim, mas o desamor, os despropósitos, o faz-de-conta; ou qualquer discurso não-poético, irreal que diminua a nobreza dos sentimentos. Onde aquelas expectativas, o querer-bem fossem pautados por ti como algo inalcançável; custoso, fardo em tuas costas.
Enquanto o brilho solar dança e faz dobrinhas na íris pra ser a contramão dessas sombras e de um adeus que não teve encontro. Um origami equatorial nos olhos floresce, tenta perfumar o peito, num jardim àquela serena flor: despetalar.
E no fundo, desses planos pra trás, dessas passagens compradas; dos versos engavetados. Fica essa ternura que agora vira silêncio, valsado em Jazz. Uma Bossa Nova desfazendo nós, o timbre em lágrima, sob os olhos vira Sol, quando a Alma nos dedilha.

(Fernanda Fraga)

PS.: Imagem do Google sem site específico.





segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Pra desmanchar o que ainda te dói...


Por isso quando a respiração ficar rápida demais – atente em inspirar arqueando o tórax.
Pra durar mais o frescor do eucalipto a ser aspergir nos álveolos de sua alma.
Qualquer coisa simples pra mobilizar os suspiros e desmanchar o que ainda te dói.
Pois nesse artesanato de dores, lágrimas e desencontros fica aquele sei lá do quê, de um ar contrito no peito, mas que de alguma forma dava pra ver por destrás das névoas, alguns remos; uma tentavia qualquer no nau dos olhos míopes.
Mas e aí? Requer então, uma demora por todas as míudezas de nós mesmos. E que se revele nas linhas, nos espelhos intercostais em tentar desamar; mesmo quando delas somos avesso e o próprio encontro. Um instante aqui pra costurar um harém dos contos estraçalhados. Porque o Amor é na verdade o olhar pelos subúrbios de si no outro, pra alumiar os assombros de seus próprios breus.

(Fernanda Fraga)