Para a amiga e poetisa Priscila Rôde*
Distraia as mãos com o lápis de cor, enquanto os pensamentos repousavam
entre uma prosa e outra, entre aquela apreensão que sobressaía e destoava
conclusões de ser apenas alguém para se conversar. O coração saltitava em mil
sustenidos, cada vez que, ouvimos a voz do outro lado. Longas ligações,
capítulos inacabados. Aquele Amor visitando cuidadosamente à mercê do próximo
olhar-sorriso. Um reino que suaviza o relógio, o compasso dos pés; e rendem-nos
numa oração a cada primeiro, segundo e último minuto. Uma composição de horas
feitas por afetos, a perfumar nossos olhos e beijar as mãos pra despertar que -
somos o encontro. Um mover-se de lábios e vozes sombreadas sobre teus ombros e
meu corpo ermo.
Seria o verso, o barco para anunciar quais destinos remaríamos? Ou por
qual razão, forma, içadas as cortinas para reverenciar essas brisas; e toda
saudade a tocar nossas peles? Quiçá aquela distância quando desapressada,
desfera a ordem para nos multiplicar no peito!?
E então quando a verdade for nua das aflições, e o coração enamorado de
esperas, que as decisões venham a ser o melhor passo, ainda que haja tantos
avessos, outros desvios. Sombras impedindo Luz, tristezas incinerando aquilo
que só nos dói. Abrigo você que colore o Céu de estrelas, dá asas ao que ainda
nos sobra; pra preencher de nobrezas, pauta única e inadiável.
Vieram algumas trombetas, uma voz-leão moldando quatro cordas e um violino, singelas exatidões; toca-me, reescreves - eterniza. Alonga aquela
vírgula e todas reticências possíveis para eu durar um pouco mais em ti.
E desse Ceú, caem pequenos chuviscos. Serve-se ele desta chuva e aquela
leitura rebuscando o relógio. Olhos perenes, dias e tardes a se desfazerem. Entre
aquarelas e pincéis expostos, as bailarinas refazem com gestos a palavra-poema,
habitam na dança seu arcabouço solar. E eu inexata, bebo uma concha do vento, sacio
a sede e você reproduz dentro daquele eco; uma ponte hasteada entre aquela nota
dissonante e o sufrágio onde aplaino algumas rimas. Tateio essa floração,
despida de mim e mim.
E sem temer qualquer desabor da Alma, torno-me vocabulário – jardim exposto;
convite pro café das cinco. Porque antes que o grão da semente, a flor já se
serve do seu perfume pra se revelar. Se despertencem dos seus itinerários para
poder habitar no além dos próprios nomes. Ser a própria casa semeando algum
verbo, o encontro um do outro. Aquele anseio delicado de estar a sua margem e
em mim, folha por folha, olhos, pele e poros. Contramão e ao mesmo tempo o próprio
infinito conhecedor das distâncias e de nós.
Eis o enamorar-se, o gênero e essa orquestra. Esse fruto, Cântico que
amanhece e se visitam na mesma prosa, lírica derramada em firmamento. Aquele
atalho capaz de avivar o que o peito trás de sensível ao que é pleno, ou a essa
ternura em que te olho e tento bordar alguns sinais e contornos por querer
segurar orando: sua mão na minha.
Mas é preciso elucidar o que tange, o que tinge a tela, ou em que ponto,
em que parágrafo, em quais vírgulas, onde há algo a mais - a mais que estar do
lado. Bem mais que além dele. Percebível. Que vivencia, proclama e reconhece. (Fernanda Fraga)
*Priscila Rôde, poetisa, autora do blog Mar Íntimo, e do seu primeiro
livro Para que Fiques, lançado em 2012, pela Editora Penalux.
*Imagem do Google, site específico da imagem não encontrado.
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