Quem é que vê
além da linha uma vogal colorida
Com seu sabor
para amaciar os olhos?
Sim, é ela a
chegar dos Montes – Gabriela.
Com sua flor
entre os cabelos era nomeada.
Enriquecida de
vésperas e desvisões
Nos Gerais de
sua saia rodada
Gabriela
deambulava nas labaredas de Minas
A catar fruta
da terra
Da raiz que desfolha a polpa
Costura o
tempo,
Com a sede de
suas folhas
Dedilha na
janela seu indivisível beijo,
Múltiplo,
avulso;
Bebido de mar e
onda,
Sobre a fonte
que recostas as promessas
Às fitas presas
aos fios negros
Apascenta os
alecrins.
E dar-me sempre
divisas de Caatingas e seixos
Contornos aos
cílios,
Que dão-te
delicadeza à pele,
Ao rubro do
pincel que desenha tua boca.
Mas habitas
veemente entre as lascas das Montanhas
A dar-me teu
colo nas pontas das curvas,
E desliza a
amplidão para dar leveza aos meus pés.
Convida-me
vestida de infinito,
Para sentar-me
na grama salpicada de cores e milagres
No assoalho de
um tecido bordado à mão;
E alimenta-me de sóis e dá alegrias aos
passeios.
A fecundar com
pão-de-queijo e mel.
E floresce
moldurada
Para destoar na
voz dos lilases de pássaros
Os versos de um
canto-azul,
Asas em uma
orquídea;
Pertença a
latitudes
Por ter em si o
perfume dos sons;
Textura dos
ladrilhos,
Pétala aérea
sob a casca
Teu nome na
caixa do lápis de cor.
Reconheces que
não há espanto?
Em fazer-te
cenário maiúsculo a esse?
És coberta de
rios
Descoberta para
fitar a palavra do papel
Refazer a casa, o caminho, namorar o amanhecer.
Para endireitar-me para além do apreensível.
Chegas assim,
revelada para a beleza:
Quem é que vê
além da linha uma vogal colorida
Com seu sabor
para amaciar os olhos?
Sim, é ela
Gabriela o
beija-flor do cerrado.
(Fernanda Fraga)