Ela teceu nos outonos uma história
bonita. Suas letras vieram fazer morada nas areias. Janelas abertas; pontes
estreitas...O brilho do Sol ia se pondo e coloria o alaranjado das paredes do
peito. Tinha como legado pincelar as desordens da Vida. Retirava com suas mãos
pequeninas a delicadeza que lhe cabia para espalhar carinhos e tocá-los. Sua
história era a promessa que jamais seria cumprida, mas precisava aprender com
as águas do Mar a cumprir seu destino.O
firmamento era artefato, a Lua sua platéia. As dunas subvertiam o intimismo
poetando as noites. O vento, fruto feminino desembrulhando a seda, a pele, o
esvoaçar dos cabelos. Ela moldava seu Amor nas linhas macias da voz dos seus
versos, origamis nas asas do infinito. Destemida transbordava com aqueles
encontros, meramente poéticos. Desarmava toda sua alma, era inteira verdade,
era à flor da pele. Plena - ave esvoaçante nas palavras, pretérito perfeito,
película que o verbo traçou em dia de céu azul, pra versar com ele o Amor. A rima que nunca deixou de dedilhar no piano,
nas linhas das próprias canções era a sua própria alegria. Queria contar
histórias desavisadas, à margem da orla pra despir suas tangências. Mas ele
semeava um amor sem querer prová-lo, metamorfoseava silêncios e sumiços. E com traços delicados e seu cabelo trançado
sonhou... Menina ainda sonhou.E trouxe o
sonho um moço. Moço de rosto anguloso, cabelos curtos e de
palavras bonitas.O vento bagunçou seus
cabelos e desfez a sua trança, aqueles fios soltos confundiram seus olhos e já
não sabia mais se aquilo ainda era Amor.O tempo passou...E foi o tempo, com
suas mãos delicadas que afastou os fios dos seus cabelos. Enxergou além, tinha um oceano inteiro entre
eles. No mar do moço navegavam muitas outras, cada uma com seus próprios sonhos
...E ele, jardineiro do mar, regava
flores, colhia pétalas e só por capricho ia enfeitando seu jardim ... Sem saber
que arrancar as pétalas das moças doíam suas flores. Ele travava uma luta interna entre o querer e o
ser. E assim, não era nada além do sonho de todas. Em alguns dias amanhecia curada, mas como numa
febre terçã aquele rosto ainda lhe visitava. E caprichosamente ele vinha e mantinha o seu
amor... O Amor demorava a amadurecer, mas ela tinha
urgência em amar e o seu único remédio era mesmo o tempo.E foi o tempo costurado letra a letra, poesia de
minutos que fez dos seus instantes, algo mais leve para suportar a falta que
lhe fazia de amar.Mesmo sabendo nadar,
ela, menina das tranças desfeitas, quase afogou. Quase afogou nas vezes que
seus olhos se perdiam dos dele, todas às vezes que no instante das pálpebras
fechadas, ela se perdia das lembranças doces.Mas caprichoso como era a tinha em qualquer instante. Como um bibelô de
louça, enfeitando a prateleira, que vez em quando é trocado de lugar. Era duro amar a distância quando o que mais
queria era estar ao lado... Era a vontade de gritar bem baixinho: T e a m o.E dizer aquilo que mais queria - Ele. Desembrulhou alguns papéis, alguns em pedaços e
outros cheios de escritos naquela mesma estante. Foi quando na verdade o
caminho se abriu. E ele, do queixo anguloso, não lhe pode ter, mas mais adiante
foi o poema em que as estrelas revelaram pra que ele lhe pudesse ler. Fez-se um
sopro, uma brisa entrecortando à tarde, sua alma como nuvem macia e o seu Amor
poetado sorriu, por ainda assim ter sido tudo que desejou ser.(Fernanda Fraga & Vanessa Cony )
Um
amanhecer colorido cada vez que teus cílios pincelam em minhas nuvens e repara
quieta as minhas pálpebras. Elas deslizam, tombam nas pontinhas dos teus
cabelos. E refletem nas gotas da chuva, todo gosto bom de bem querer. Um
pincelar de afetos, senão primeiro o encanto; senão primeiro o sorriso
arrancado. Amanhecemos pautados por folhas ao vento. Deitamos na orla, somos
pássaros sobrevoando o céu.