Já se despedem os últimos sinos do inverno. Os dias curtos, o frio intenso, o sol adormecendo mais cedo: o recolhimento. Pois aquele manto Santificado se preparava para dar lugar aos frutos novos. Mas os ventos aqui continuam a peregrinar, a trazer silêncios sussurrantes, mas carregados de Árias, orquestrando uma música descompassada e inebriante.
Afinal, ela não sabia mais o que fazer com aqueles silêncios, sem aqueles atropelos insondáveis. Era notório que seu ofício no momento era florescer e florescer de Amor. Alinhavar todas as cores, todos os tons, as dores, todas as pétalas secas, pois já é Primavera. Mas em seu íntimo é difícil florescer em meio a tantas perdas, a esses alardes que o amor nos dá. Sim. É difícil o des(amar).
Parece-me que entre essas cirandas esperançosas e que “arar” a terra do seu coração seja um processo tão exaustivo quanto à Finitude do amar, dos Cânticos ao seu Amor. Mas ela sabe que precisa se reerguer, se desprender dessas dores e se revestir de outras grandezas. Para que o outro possa lhe ofertar mudas em seu pequeno-grande Jardim.
Talvez ela queira sem perceber continuar nesse desvelo de sentimentos não correspondidos e não tenha forças suficientes de deixar o barco de a vida andar ao seu curso. Pois esses triunfos de enamorar-se, podem desfalecer sua tenra juventude. Uma vez que essas Estações arrancam também uma infinidade de sentimentos saudosos. Este é o fruto que se reveste de seus silêncios e de suas Floradas.
Sim, ela passou pela dor. Ela se prendeu tão inteiramente àqueles Outonos embalados de sombras de Inverno. Hoje seu suspiro é dissonante, mas queima em sua alma como fogo: Do Amor e do Florescimento.
Ali naquele canto da sala, deitada no tapete plumoso, ela se desprendia entre uma música perdida no seu pensamento e os versos sonoros que se encontravam pouco a pouco naquele oceano de afagos, de promessas ali trocadas. Era inevitável que ela se entregasse a tantos sentimentos que outrora tanto desejou. Pois em cada encontro tomarias teu amor, como pétalas em tuas mãos.
Ela sempre deixou seu interesse mútuo àquela simetria de ternuras e encantamentos. Que ele também se refugiou por meio dela. A cada noite, em suas mãos ele delineava cada carinho, cada entrega... Porém, depois de tê-la tomado em seus braços e feito-a percorrer por caminhos que ela sempre ansiou está, ele parte para outro lugar; para outros braços. Feito folha que vai ao campo onde o vento saltou. Ele desmentia tudo, qualquer envolvimento. Dizia a ela que não havia nada entre os dois. Desconversava as interrogações da jovem perante os carinhos trocados, os beijos, as lembranças. Ela tentou percorrer o campo onde deixou seus sinais do seu amor orvalhado. Tentou ainda ir ao Sol recolher suas vestes de ouro, os lençóis, suas tiaras que prendiam seus longos cabelos, mas tudo foi em vão. Nada fazia sentido. Seu amado desmentia tudo! A cada esquiva daquele jovem eram vários punhais em seu coração. Sua alma doía. Pois sentia um amor puro, forte, entregou-se por inteiro a relação. Sei que tudo aqui faz falta, embebe-se do silêncio entre eles a cada duplicidade do amor.
Ainda deitada no tapete plumoso, ela vai soltando seus anéis de saudade, pois suas mãos não se adequam mais para colher suas pétalas e nem para as carícias. Ah, mas a mim, a mim. Atento-me aos versos sonoros, com lágrimas nos olhos; caminhando ao redor por todo aquele tabernáculo.